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Crônica Poética

Lugar de escrita

Confissões escritas na pele, paixão que dura o tempo de um poema. Leia, sinta.

Multi(Versos)

Multi(Versos)Fotos, paisagens, gentes e memórias escritas na poesia de Marco Jardim (@marcoajardim no Instagram)

26/05/2025 20h30Atualizado há 2 meses
Por: Redação

Quero dizer o que vi e senti. 
Mesmo que me custe revelar pedaços de mim.
Eu te vi, em meio a uma noite de multidão ébria. 
Vestia jeans, firmado por um cinto de couro marrom, os longos cabelos num coque, barba espessa, bem desenhada, olhos semicerrados, inebriados pelos segundos, e, vez em quando, um sorriso solar. 
Não fosse o frio dos dias de agora, diria que você era prenúncio de verão, signo de ar ou mar, não sei ao certo.
Te vi num convescote de regozijo, tempos atrás. 
Sintonia? Sinais?
Tinha tanto azul à sua volta, um espectro de azul que brotava dos ombros, à flor da pele. 
Como o céu noturno visto do pátio da estação lunar.
Costumo esquecer tudo do dia ao cair da noite.
No dia seguinte, procuro os esquecimentos pelos cantos, feito estrangeiro ardente, buscando a concessão de te recordar.
Falando por gestos uma mágica de outro vocabulário.
E o que você sente, você sente: honesto, atraente, algo atemporal. 
Vi, em você, os meus: os bairros que amei em Salvador, a areia da praia onde deitei, o gosto do araçá, os frutos do mar.
E o que de melhor você conheceu no ardil do dia impreciso.
Você transitou - como um gato em arrepio, um elfo, um torpor entre universos.
Não me confessou, mas apreciou os signos: aquário, leão. 
Confluência em constelação.
Tentei balbuciar palavras aos botões. 
Suas mãos pacientes pousaram nas esquinas dos meus cabelos das horas de então.
Pele em pele, tecida por artesão. 
Saudade, pois. 
Do pátio, da luz do sol, da língua, do tempo que ressoa à míngua. 
Saudade contada por um fio - seguindo o curso do rio das palavras. 
Eis que segurei na gola dos seus pensamentos, numa confissão de beijos roubados.
Dois corpos conectados.
E pensar que deixei a janela aberta de manhã para o seu hálito perfumar o quarto.
Ainda é outono, elfo. 
É o plano da vontade de mais um destes encontros de ocasião. 
E eu ninaria seu sono em meu peito outra vez, no tempo dos versos que eu tiver a oferecer. 
Esta é minha dedicação plena à duração das coisas que sinto.
Pergunto em voz baixa: é possível se apaixonar em tão poucos dias?
Sem mistérios, sem destinos, sem desvãos?
Talvez seja só amor às últimas letras.
Amor de maio, passageiro.
Mas enquanto as horas não sucedem, guardo no território do corpo a sua visita.
No meu lugar de fala, a escrita.

Por Marco Jardim

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