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Pesquisei Sebastião Salgado em 2021, ao realizar um trabalho acadêmico na disciplina de fotodocumentário ministrado pela querida Adriana Camargo. No ano seguinte (2022), Marcus Lima, também professor que tive a honra de conhecer e compartilhar conhecimentos, levou para sala de aula a "bíblia" de Salgado — um dos livros cheio de riquezas em registros fotográficos, com alguns pequenos textos que contextualizam as histórias daquelas páginas. Não por coincidência, o livro era "Gênesis". Li (traduzi) as primeiras folhas, no título: "Africa".
A primeira frase do texto dizia (em inglês): “Since my first visit to Niger, in 1973, I have always felt a deep attachment to Africa.” (tradução): "Desde a minha primeira visita ao Níger, em 1973, sempre senti um profundo apego à África".
Nunca me desapeguei de Sebastião, principalmente do seu trabalho sensível e forte, que principiou diversas obras sobre a vida, que impactam. Quem gosta de fotografia, do olhar para realidade transformado em arte, do lado humano da coisa, vai me entender.
As conexões não param por aí. No último ano da minha graduação em jornalismo (2024), me tornei voluntário em um programa do governo do estado da Bahia para dar oficinas em escolas públicas de ensino do interior.
A oficina que idealizei era sobre produções audiovisuais. Durante os encontros com as turmas de alunos do ensino médio, levei referências que pudessem contextualizar a eles sobre o olhar para o audiovisual. Não por coincidência, uma das últimas referências que levei, quando a oficina caminhava para o fim, foi Sebastião Salgado. Para aprofundar, assistimos ao seu documentário: "O sal da terra" - que retrata o trabalho desse fotógrafo singelo, em viagens pelo mundo registrando a relação das pessoas com os ambientes que vivem.
Lancei as minhas sementes, mesmo que Salgado já havia perpassado sequoias e pinheiros.
Não por coincidência, nos meses finais do mesmo ano de 2024, viajei, por meio de um edital da universidade, para a África. Atravessei o oceano e desembarquei em Maputo, Moçambique, onde vivi uma das maiores e melhores experiências culturais e acadêmicas da minha vida. Durante a década de 1970, quando o país enfrentava a guerra civil, Salgado documentou a situação. Eu estive lá décadas depois, felizmente não mais em guerra civil, masem guerras de humanidade, dos efeitos que as segregações das décadas anteriores deixaram nesses povos, que apesar do pesar, sobrevivem.
Retorno ao Brasil ainda mais conectado com essa essência que Salgado soube ilustrar com maestria em seu trabalho fotográfico. Ele não só deixa um legado, como deixa uma chama acesa — principalmente em mim — de que o trabalho humano, sensível e forte, pode impactar e transformar vidas.
Por Vitor Carlo