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Ditadura Militar

Da Ditadura Militar ao 8 de Janeiro: reflexões sobre a democracia brasileira

Uma análise dos eventos que marcaram a história política do Brasil, desde o golpe de 1964 até os recentes ataques às instituições democráticas

04/04/2025 14h58Atualizado há 4 semanas
Por: Sara Dutra
Foto: Evandro Teixeira
Foto: Evandro Teixeira

Em março de 1964, o Brasil vivenciava um período de intensas transformações sociais, políticas e econômicas. O presidente João Goulart propôs as "Reformas de Base", que incluíam mudanças agrárias, educacionais e tributárias. Essas propostas dividiram a sociedade: enquanto movimentos populares e sindicatos as apoiavam, setores conservadores, como empresários, latifundiários, parte da classe média e a Igreja Católica, temiam uma possível guinada socialista.

A crise econômica, agravada desde o governo de Juscelino Kubitschek, caracterizava-se por alta inflação, déficit comercial e aumento da dívida externa, intensificando a instabilidade política e a insatisfação popular. No contexto da Guerra Fria, o medo do comunismo crescia entre setores conservadores, que viam nas propostas de Goulart uma ameaça à ordem capitalista.

A oposição civil ao governo também se manifestou de forma expressiva. Em 19 de março de 1964, a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade" reuniu milhares em São Paulo contra Jango, demonstrando apoio ao golpe militar que se concretizaria dias depois.

Em 31 de março de 1964, tropas lideradas pelo general Olímpio Mourão Filho partiram de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro, iniciando o movimento que deporia João Goulart. Governadores de diferentes estados apoiaram a ação.Em 2 de abril, o presidente do Congresso Nacional, senador Auro de Moura Andrade, declarou: "Comunico ao Congresso Nacional que o senhor João Goulart deixou o Governo da República". Mesmo com Jango ainda em território nacional, o Congresso declarou vaga a presidência, formalizando o golpe.

Durante o regime militar, que durou até 1985, o Brasil teve cinco presidentes militares, todos eleitos indiretamente, sem a participação popular. Para consolidar o poder, o regime editou diversos Atos Institucionais. O mais drástico foi o Ato Institucional nº 5 (AI-5), de 1968, que resultou no fechamento do Congresso Nacional, suspensão de direitos políticos e intensificação da censura e repressão.

O AI-5 marcou o início de um período de intensa repressão cultural e censura à imprensa. Artistas, músicos e jornalistas foram perseguidos, exilados e tiveram suas obras censuradas. Músicas como "Cálice", de Chico Buarque e Gilberto Gil, tornaram-se símbolos da resistência cultural, utilizando metáforas para driblar a censura e denunciar a opressão vigente.

Os Ataques de 8 de Janeiro de 2023

Décadas após o fim da ditadura, o Brasil enfrentou novos desafios à sua democracia. Em 8 de janeiro de 2023, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília — Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto. O ataque ocorreu uma semana após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Obras de arte, móveis e documentos foram destruídos ou roubados, representando uma afronta direta às instituições democráticas. As investigações subsequentes levaram à responsabilização de diversos envolvidos, incluindo figuras políticas de destaque.

O Filme "Ainda Estou Aqui" e a Memória da Ditadura

A memória dos anos de chumbo foi recentemente revisitada no filme "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernando Torres. O longa-metragem aborda a história de Eunice Paiva, esposa do deputado Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura. A obra conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional, marcando um momento histórico para o cinema brasileiro. A repercussão foi tão significativa que a Câmara Municipal de Vitória da Conquista prestou homenagem ao cineasta pela conquista, por iniciativa da vereadora Márcia Viviane (PT).

A história política do Brasil é marcada por períodos de repressão e resistência. Eventos como o golpe de 1964 e os ataques de 8 de janeiro de 2023 servem como lembretes da importância de se preservar e fortalecer as instituições democráticas. A cultura e a memória desempenham papéis cruciais nesse processo, garantindo que as lições do passado orientem o caminho para um futuro mais justo e livre.

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