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Cultura

Na Fligê, Itamar Vieira Júnior fala dos personagens dos seus livros

Provocado, o escritor conversou com os leitores sobre sua escrita e os personagens de “Torto Arado” e “Salvar o Fogo”

Fligê 2023

Fligê 2023Cobertura da Feira Literária de Mucugê - 6ª edição.

23/08/2023 17h24Atualizado há 2 anos
Por: Ailton Fernandes

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Durante a sua participação na programação da 6ª Feira Literária de Mucugê (Fligê), Itamar Vieira Júnior foi questionado, provocado e levado a refletir sobre sua produção literária e os personagens que estão, principalmente, em “Torto Arado” e “Salvar o Fogo”.

Ele participou de duas conversas, visitou a exposição “Acesa Retomada” e a galeria de arte na vila de Igatu, atendeu a imprensa, foi homenageado por Célia Tupinambá e por Gal Pereira e realizou duas concorridas sessões de autógrafos. No domingo, último dia da feira, os dois livros dele que estavam disponíveis na livraria para venda esgotaram. 

Ao ser questionado sobre o que lhe inspira e sobre como pensa ao criar e dar vida a mulheres como Bibiana, Belonísia e Luzia, Itamar revelou que sua escrita é uma forma de reconhecer a si mesmo. “São personagens que retratam a grande parte da nossa população. Mas são personagens que como qualquer outros, todos nós, são atravessados pela história e, às vezes, não sabem muito bem que são atravessado pela história, pela história com H maiúsculo, né? Essa história colonial, essa história de escravista, essa história do genocídio nas Américas”, disse.

“A partir da vida de cada um deles que a gente vai poder adentrar um uma dimensão mais profunda da nossa própria história. Eu enquanto escrevo, eu sinto isso. É um exercício pra conhecer a minha própria história”. 

“E eu percebo que o relato dos leitores vai pelo mesmo caminho. Ao lerem essas histórias, eles também estão adentrando em suas próprias histórias”, considera o escritor.

Itamar também relaciona a realidade das obras com a realidade que viu nas cidades baianas da Chapada Diamantina. “Em ‘Torto Arado’, a gente tem ali uma família que vive numa comunidade de trabalhadores, numa fazenda na Chapada Diamantina, e vivem uma situação análoga à escravidão. Eles não sabem muito bem sobre o seu passado, mas isso é revelado né? Literariamente, por personagens na história. Em ‘Salvar o Fogo’, é da mesma maneira, uma comunidade que vive ao redor de uma igreja, uma igreja católica, um mosteiro do século XVII, só o fato de ser um mosteiro do século XVII já aponta que a história tem ainda um peso muito significativo no nosso cotidiano. Eles vivem sob domínio dessa igreja. O domínio desse credo que anula todas as outras crenças que existiam anteriormente e são atravessados por uma violência que é da própria comunidade”.

“É a partir dessas histórias que a gente vai adentrando em camadas mais profundas da nossa própria história”.

Em tom de agradecimento, Itamar falou sobre o retorno à Fligê: “é sempre muito bom voltar à Chapada, é um lugar que eu tenho carinho, um lugar muito especial pra mim. Me ensinou tanta coisa. Eu não sou da Chapada, mas é como se eu tivesse nascido aqui”.

Foto: Thiago Gama

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