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Música

7 discos para quem ainda (!) não conhece Gal

Sim, há quem diga que não sabe quem foi Gal Costa. Está perdoado, só não pode continuar no pecado!

Conversa de Balcão

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09/11/2022 17h04Atualizado há 2 anos
Por: Ailton Fernandes

A baiana Gal Costa morreu, em sua casa em São Paulo, nesta quarta-feira (9) após uma vida dedicada à música. 77 anos de vida, sendo 57 de uma carreira belíssima. Intérprete desde sempre. Até setembro de 2020, Gal já tinha dado voz a 1.015 gravações, segundo levantamento do ECAD.

A maior cantora da música popular brasileira. A principal a dar voz às canções de Caetano Veloso. Gal foi e vai continuar por muito tempo ainda a ser a melhor cantora da música popular brasileira. Mas, há quem diga que não sabe quem foi Gal Costa. Quem sou eu para julgar, não é mesmo? Está perdoado, só não pode continuar nesse pecado!

Para ajudar, listo aqui sete álbuns da cantora para quem quer começar a conhecer Gal, que parte hoje, mas que jamais vai nos deixar. Sua voz, sua vida. Gal é eterna!

Fatal A todo vapor - Ao Vivo (1972)

Lançado pela gravadora Philips no fim de 1971, o disco é um registro ao vivo e sem filtros do show Fatal, apresentado por Gal no mesmo ano – no Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro – e dirigido por Waly Salomão.  O álbum, que consolidou Gal como musa e uma das principais vozes da contracultura brasileira, é – ainda hoje – impressionantemente atual. Teve intensa repercussão e dimensão sócio-política e parecia ser um respiro, uma luz no fim do túnel, um momento de fuga e sonho, de poder dizer não às convenções de uma sociedade e de um país calado pela repressão. 

Gal (1969)

É o mais ousado disco da carreira de Gal Costa. Em nenhum outro momento a cantora repetiu o que ouvimos neste álbum. Gal, mais conhecido como o álbum psicodélico, a começar pela capa, com um desenho típico dos vôos sem céu do fim dos anos 1960. Na contra capa aparece uma imagem desfocada da cantora, com o seu cabelo “juba de leão”, já anunciando a sua fúria. O momento é de raiva. Seus amigos e companheiros da Tropicália, Gilberto Gil e Caetano Veloso, após a prisão em dezembro de 1968, seriam libertados na quarta-feira de cinzas de 1969, sendo escoltados até Salvador, de onde partiriam em julho para o exílio em Londres. Gal Costa ficava sozinha com a sua raiva. Suas interpretações e posturas, até então intimistas e contidas, tornam-se mais agressivas. A cantora junta-se a Jards Macalé e à guitarra de Lanny Gordin, o resultado é este álbum único, com apenas nove faixas, mas que não houve outro registro igual na música brasileira.

Gal Tropical (1979)

Composto por 12 faixas, tem como peculiaridade não apresentar canções inéditas, sendo regravações, em sua maioria, de grandes sucessos da música popular brasileira, das décadas de 1930 a de 1970. Mesmo na ausência de ineditismo, algumas canções pareciam ter sido compostas para a cantora, tornando-se definitivas na sua voz. Também os ritmos são diversos, do samba canção ao bolero, das marchas carnavalescas ao rock, numa unidade a beirar a perfeição.

Gilberto Gil & Gal Costa - Live in London '71 (2014)

Esse é de valor documental. É a gravação ao vivo do show realizado pelos cantores baianos em 26 de novembro de 1971 no Student Centre da City University London, na Inglaterra. Voz dos exilados e da contracultura do Brasil naqueles anos de chumbo, Gal visitava ocasionalmente os amigos tirados à força de seu país natal. Foi nessas circunstâncias que fez com Gil esse show em que os dois artistas - Gil, sobretudo - exercitam sua liberdade musical de forma plena, longe dos olhos e dos ouvidos da censura  do Brasil que, cega aos direitos humanos, calava vozes que se levantavam contra o regime militar instaurado à força no país em 1964.

Recanto (2011)

Disco eletrônico de tons escuros, Recanto revigora a voz de Gal Costa, ora no papel de crooner habilidosa que põe essa voz cristalina a serviço da poética e dos sons afiados de Caetano Veloso, compositor das 11 faixas. O álbum é um dos mais ousados e arejados da discografia da cantora, produzido por Caetano e Moreno Veloso. Mesmo carregada rumo à modernidade que já parecia perdida, a voz luminosa de Gal brilha nos recantos escuros desse disco arrojado que já se impõe entre os melhores da cantora.

Estratoférica (2015)

Gal apresentou canções inéditas de nomes como Mallu Magalhães, Caetano Veloso, Thalma de Freitas, João Donato, Céu, Lira, Jonas Sá e Tom Zé, além da parceria entre entre Milton Nascimento e Criolo. Nele, Gal mostrou ser possível mesclar a modernidade com a tradição de uma senhora. Uma senhora de visão, uma grande cantora atenta às grandes transformações ao seu redor. Deixou evidente que o frescor da juventude ainda gritava através de sua voz delicada e cristalina. 

Nenhuma dor (2021)

Idealizado e produzido em plena pandemia, o disco nasceu como projeto de quarentena, era um projeto digital, que virou CD e vinil. Ele traz dez duetos da cantora com artistas das novas gerações, como Rodrigo Amarante, Seu Jorge, Rubel, Silva, Criolo e Jorge Drexler. No geral, cada artista envolvido fez parte da produção da própria faixa e terminou por ser um trabalho colaborativo. Ouvindo as faixas, fica clara a influência monumental de Gal não apenas entre as cantoras, mas também no canto masculino da música popular brasileira. Mãe de todas as vozes, homens e mulheres.

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