Multi(Versos)Fotos, paisagens, gentes e memórias escritas na poesia de Marco Jardim (@marcoajardim no Instagram)
Passei por aqui.
Com um sentimento cândido, belo, num olhar quase incrédulo.
Enamorei-me perdidamente pelo firmamento.
Por um espaço que pareceu-me, deveras, mudar de cor.
Nada assim tão próximo dos termos do amor.
Eram relíquias, devoções, estrelas e recordações.
Um retiro particular.
Com chão de tapulho arranhado, pufe de couro, samambaia e mousse de maracujá.
Passei por aqui, acenei, provei do doce de um amplexo.
Desejei, intimamente, um ósculo, sem nexo.
"Nem morto, não posso, não devo", disse-me o amor, invulnerável.
Então tá.
E o que ganhei de presente?
Um anoitecer de céu fechado.
Um desapego desmistificado, uma paixão passageira.
Passos aguardados no corredor, conversas de sofá, um cinza-chumbo com meio sorriso.
E um cinza-cobre com encanto esmaecido.
Ah, as fraquezas da paixão.
Como fugir desse clarão repentino, misto de silêncio e de olhar demorado, embevecido?
Passei por aqui e fiz anotações no diário amarelado.
Pareço ridículo assim, conjugando o verbo apaixonado.
Desfiando o rosário da solidão.
Como se qualquer coisa dita fosse uma façanha.
Um som regurgitado, gutural, uma artimanha.
E o coração, como expressão maior do meu pulsar, vê até libélulas nas esquinas da cidade.
Paixão é mesmo como fim de tarde.
É o tempo eterno entre um "olá" e outro "até".
Uma busca vibrante, amotinada e nua pelo sentido da vida vigente.
Ah, essa apaixonada gente.
Os sentidos parecem ficar mais apurados quando se empresta paixão até a momentos de dor.
E um breve calor que insisto quase sempre em confundir com amor.
Mas o amor é invulnerável.
De gusto ou palatare, uma iguaria para dias sentimentais.
Por que, então, não ficar mais tempo, revisitando o vento com esse ar de romantismo?
Ledo engano dedicado ao sofismo da paixão.
Só o amor permanece na invulnerabilidade.
Humilde, puro, sem maldade.
Com reticente visão de apaixonado, passei por aqui.
Acenei, parti.