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Ave, Cristo

Em tempos de adoecimentos, guerras, desesperanças, qual o lugar da espiritualidade?

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Multi(Versos)Fotos, paisagens, gentes e memórias escritas na poesia de Marco Jardim (@marcoajardim no Instagram)

18/04/2022 08h57Atualizado há 3 anos
Por: Redação

Nem tudo está conforme o costume geral. 
Na história cristã das festas regidas pelo calendário lunar, o fato é que pouco se nota o lado de lá.
E quando o usual é a única frequência, só se admite o extraordinário quando este atinge a essência. 
O mundo não segue a hora aprazada.  
Seja onde for, cada vez menos o olhar dos hemisférios sente os músculos involuntários. 
Em domingos de ramos ou sextas santas, o que rima com a Paixão é o aparente. 
À frente da mesa da última ceia, um coral de descrentes.
E um cheiro de multiplicação de peixes, temperado ao gosto dos mares do Sul. 
Ao gosto das tâmaras e dos umbus. 
A outras frutas ácidas que desejariam sorver como vinho. 
No deserto da alma da cidade, o que há de sobra é paladar, depois de outros sentidos para assaltar. 
E os tufos das noites turquesas no lugar do abandono, das poucas esperanças, da falsa religiosidade. 
Se a significância for a renúncia, nesta romaria poucos desfilam. 
Da história da doce lichia à ária da Páscoa, falta comoção à multidão secular.
Além de ainda ser hostil, ela compartilha rivalidades na grande festa popular.
Iconoclastas, gênios, contestadores hão de questionar: onde então, nas consciências humanas, os amigos encantadores, os profetas inspiradores de Cafarnaúm a Jerusalém?
Não estão eles em palavras de papel ditas ao vento. 
Estão na memória da resplandecente voz do Sermão.
No tempo que resta na carne, balsamizando a alma e o coração.
No respirar da Natureza, no som das estrelas, nas elevadas vibrações da ressuscitação. 
A vida, na Terra, ainda é esta escola deserta, esta rua vazia do sepulcro, esta gritada solidão.
Uma trajetória ordinária, como toda miopia leva a crer.
Mas a qual Calvário da eternidade o tempo perdido hoje nos conduz?
Do poço escuro do fundo à promessa viva da imortalidade.
Vida, caminho e verdade, intuem as vozes indizíveis do Alto. 
E, no firmamento, nesta hora de preces, as estrelas parecem crisântemos de luz.
Ave, Cristo Jesus.

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